terça-feira, 27 de outubro de 2015

Capítulo 11: O homem que comanda o inimigo

TERCEIRA PARTE
CÃES E TAÇAS

ERA UM LUGAR BELO, MESMO QUE NO INFERNO FOSSE.

Um céu cinza cobria todo horizonte, anunciando uma chuva matutina. Já devia passar da metade da manhã quando ele chegou com as notícias. E eram ótimas notícias. Ele seguiu pelos corredores de pedra bem trabalhada, ainda incompleta em alguns trechos, onde artesãos já haviam começado a trabalhar.

Um homem de cabelo muito louro abriu uma grandiosa porta com detalhes em ouro e prata. Sua veste, em peça única, era apenas um manto de seda, com detalhes de safira. Por cima do manto havia um peitoral de cota de malha, uma armadura de couro resistente. Na cintura, encontrava-se embainhada uma espada majestosa com safiras incrustradas.

Havia um grande brasão esculpido na porta, nas suas duas metades. O brasão era representado por uma espada e um escudo, avermelhados e em detalhes dourados. A espada em alto relevo e sobre o escudo, um gladio simbolizando a força do ataque sempre à frente de ações defensivas. Símbolos de guerra.

Quando o homem entrou, notou que o quarto possuía mais pessoas que esperava. Havia dezenas de mulheres seminuas e um forte cheiro de sais de banho aromatizava o ar. O chão e as paredes eram de mármore puro de tão branco, com colunas de arte coríntias bastante trabalhadas. Num canto, uma cama majestosa. Em outro, espelhos e peças decorativas. Uma banheira ao fundo, ocupada. Quadros e muitas esculturas, todas de uma única pessoa.

– Sacerdote – anunciou o homem, ajoelhando-se.

Da banheira emergiu um homem de meia idade, com cabelo longo que insistia em manter sua cor natural, um negro profundo e sem vida. Havia apenas alguns fios prateados, anunciando a idade do senhor. Ele ajeitou os cabelos para trás, com uma das mãos. A água e os sais desciam pelo seu corpo nu. As duas mulheres que o acompanhavam em seu banho saíram da banheira e pegaram uma toalha e um roupão de algodão para o senhor, que nem mesmo se preocupou com o fato de estarem nuas, sendo enxugado por elas.

– Liath de Fobos, General do Esquadrão da Derrota. Eu o havia mandando a uma missão, por ordens diretas de nosso mestre, amo Ares. Imagino que tenha sido bem sucedido, ou será que me engano pensando assim?

– Não se preocupe sua Santidade. – fez uma pequena pausa. Sua voz estava segura, com um pouco de desdém – A missão saiu perfeitamente bem, exceto por um pequeno detalhe.

– E qual seria?

– Adrienne de Morcego, capitã de minhas tropas, foi ferida em combate. Além disso, ela não conseguiu matar sua presa há tempo. Foi uma batalha dura, meu senhor.

– Por Ares! – bradou o homem, que relutou em por o roupão que estavam lhe vestindo. Acalmando-se, permitiu que as cortesãs terminassem o serviço – Bem, não vejo que esse seja um problema terrível. Pelo menos ela não foi derrotada, o que significa que seu adversário deve ter ficado muito ferido, não é mesmo?

– Sim, Sacerdote. Quase morto. Creio que será um problema a menos durante a guerra.

– Discordo. – disse pensativo – Conheço cada constelação do céu. Dessa forma, conheço bem nossos inimigos. Sei que possuem um cavaleiro que nos trará problemas em relação a isso. Seu nome é Serafim de Taças.

– E qual o problema exato que ele nos trará, Sacerdote?

– A constelação de Taças é abençoada com o dom da cura, e o cavaleiro dessa constelação conhece o segredo dos curandeiros antigos. Com ele ajudando nossos inimigos, temo que nosso número reduzido de combatentes não seja capaz de resistir a ataques prolongados. Temos que vencer esta guerra rapidamente…

– Ou nos livramos de quem pode curá-los – completou Liath.

– Sim… – falou pensativo o Sacerdote, que agora sentava em sua cama, ainda cercado pelas mulheres. Fez um gesto para que o guerreiro se levantasse – Então temos mais uma missão para você e seu Esquadrão. Mas antes que vá, temos que pensar um pouco mais sobre os pontos fortes dos nossos inimigos.

– Os Cavaleiros de Ouro. – Liath falou com uma leve raiva na voz – Senti o cosmo de apenas um deles e cheguei a me assustar por um segundo. Ele possui um alto potencial, mesmo o tendo ocultado bem. É tão poderoso quanto qualquer um de nossos Generais. Para piorar eles estão em maior número. Somos apenas quatro, e eles são dez.

– Nove – corrigiu.

Percebendo o equívoco do Sacerdote, Liath explicou.

– Não, sua Santidade. Apenas o cavaleiro de Libra se encontra desaparecido, e não há um cavaleiro para a constelação de Leão. Mesmo que Áries não esteja no Santuário, ele retornará quando souber o que está havendo.

– Sim, concordo. – a voz do Sacerdote carregava um sadismo assustador. Seu olhar pousou num canto pouco iluminado do quarto – Mas creio que Atena não contará mais com um deles para lhe ajudar. Não é mesmo, Remo de Deimos?

Um par de olhos brilhantes, dourados e sobrenaturais, surgiram em meio às sombras que ocultavam um dos cantos do quarto. Eram olhos ameaçadores, de um predador. Saindo da escuridão, veio um homem formoso, com cabelo louro-rosado e quase longo. Os seus olhos amarelos estavam fechados, mas caminhava sem problemas. Seus trajes eram idênticos aos de Liath, exceto por haver gemas rosadas em vez de safiras, e ele possuía um arco preso às costas, no lugar da espada, mas não carregava flechas. Havia uma semelhança entre os Generais. Remo trazia em uma das mãos um saco que pingava um líquido vermelho escuro, deixando um rastro que sujou o impecável piso de mármore do quarto. Liath conhecia bem o cheiro que emanava daquele saco.

– Meu querido Liath. – a voz de Remo era poderosa e cordial – Veja você mesmo com seus belos olhos azuis.

Sem tocar no conteúdo, ele arremessou o que carregava para o chão, mostrando a todos que levava naquele saco velho. Algo caiu e rolou um pouco no chão. Liath esticou um dos braços e puxou pelos cabelos uma cabeça ausente de corpo. O sangue pertence a um corpo morto há dois ou três dias. Já devia está seco até então. O que Remo fez a esse homem? Observando melhor a cabeça, pode notar que havia marcas horríveis, o que a tornava irreconhecível.

– A quem pertence essa cabeça, Remo?

– Ao Cavaleiro de Ouro da Casa de Câncer, lorde Rhodes.

E rindo maliciosamente, acompanhado pelo Sacerdote, Remo tirou do saco um elmo dourado, coberto de sangue, e o entregou a Liath. Ele não acreditava no que via. Rhodes tinha a fama de ser o homem mais forte do Santuário. Se ele foi derrotado, então os outros Cavaleiros de Ouro não seriam tamanho problema assim.

– Só sobrou a cabeça. – disse Deimos falando seriamente após se recompor – Fiz o corpo dele explodir em pedaços. Ninguém sabe disso ainda, somente vocês e Mestre Ares.

– E a armadura?

– Eu a trouxe como troféu. Conhece as leis: o tesouro do seu inimigo o pertence. Agora possuo o mais valioso dos troféus, a armadura de um Cavaleiro de Ouro. – voltou a rir, mas logo parou fingindo tristeza – Mesmo sabendo que jamais poderei utilizá-la, ou despertaria seu Cosmo. Além disso, nunca desapontaria nosso amo vestindo um traje inimigo.

– Agora temos menos um encalço em nosso caminho. – disse o Sacerdote, deslocando-se até a porta, sendo acompanhado pelos Generais – Façamos o seguinte: vão à sala de reuniões. Convoquem os outros dois Generais. Eu os direi o que temos que fazer depois de me trocar. – parando um pouco, ele olhou para trás e refletiu. Viu as mulheres que o acenavam com as pontas dos dedos – Na verdade, dê-me uma hora. E descansem.

Fechando a porta dupla, escorou-se nela com as costas. Ficou pensando um pouco sobre o que ouviu. Mesmo que os Cavaleiros de Ouro nos tragam problemas, não podemos esquecer os outros guerreiros de Atena. O tal cavaleiro que lutou contra Adrienne nem era de alto nível, de acordo com Liath, e causou problemas. Isso é preocupante.

– Seja como for, nós triunfaremos. – falou baixinho – Vamos destruir aquela falsa morada de deuses.

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