quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Capítulo 08: A União Dourada

ERA UMA LONGA ESCADARIA.

Passando pelas Doze Casas, morada dos cavaleiros de ouro, Ícaros de Sagitário seguiu até a Grande Casa, morada de Atena e do Grande Mestre. Chegando à Sexta Casa, a de Virgem, ele sentiu a necessidade de parar por um momento, refletindo antes de seguir adiante. Será que Delfos está acordado ou continua sua profunda meditação? Ele é um muito sábio, creio que tanto quanto o Grande Mestre. Se alguém pode saber de algo, esse alguém são eles dois.

Entrando na Casa, ele parou em seus primeiros passos. Mas que sensação é essa? Saindo as pressas da morada, constatou algo diferente. Não era só uma sensação, mas algo físico também. Seu cosmo começou a se intensificar sem sua vontade, ao ponto dele se tornar uma estrela no meio da escuridão da noite. Não acredito! Meu pedido para conversar com o Grande Mestre resultou em uma União Dourada! O Relógio Zodiacal, que sempre ficava apagado, agora mostrava dozes chamas azul, o Fogo Perfeito. Cada símbolo solar tinha sua própria chama. Aquele era o ato que anunciava a União Dourada, onde todos os cavaleiros de ouro devem se reunir para uma reunião na Grande Casa, juntamente com o Grande Mestre. Aqueles que não comparecessem sem uma boa justificativa seriam considerados traidores do Santuário.

Ícaros percebeu que a situação poderia ser bem mais grave do que esperava. Concentrando o seu cosmo, abriu as asas de sua armadura e alçou voo. Ele sobrevoou rapidamente as Doze Casas, algo proibido exceto em situações de urgência. As chamas do Relógio são ascendidas apenas quando resta uma hora para o fim do prazo de resposta. Ao que parece, o Grande Mestre estava bem acordado e ansioso para contar algo aos cavaleiros de ouro. Ícaros não fez cena e se apressou, voando cada vez mais alto e veloz.

*     *     *

– O SENHOR ESTÁ BEM, MESTRE ORRIN? – perguntou um pouco ansioso.

– Eu… É, estou bem Geord – Orrin estava confuso. Sua cabeça ainda doía muito, suas veias ardiam a cada batida do seu coração, mas tudo estava relaxando aos poucos. Ele então olhou em volta e ficou preocupado com a cena que viu – O que houve aqui? E como vim parar no Portão Sagrado?

– Espero que minha prece tenha sido suficiente, mestre Orrin de Cão Menor.

Orrin se ergueu cambaleante, mas se sentiu melhor assim que ficou de pé. Olhou para quem havia falado com ele e viu Serafim de Taças. Entendendo tudo rapidamente, agradeceu o cavaleiro com um aceno tímido. Ele testou dar alguns passos e viu o estrago que destruíra a entrada do Santuário. O Portão Sagrado havia tombado e várias construções tinham sido afetadas pelo que parecia ser uma explosão. Alguns cavaleiros de bronze, supervisionados por Portos de Hércules, estavam demolindo cuidadosamente aquelas que eram irrecuperáveis. Vários soldados estavam sendo amparados pelos seus parentes que moram no Santuário. Aos poucos, tudo estava voltando ao normal, só que significativamente afetado.

– Então, alguém pode me explicar? – perguntou olhando para o aprendiz e o cavaleiro – Estou confuso com tudo isso.

– Bem, senhor Orrin, não estava presente o tempo todo, mas sei que foi um “mensageiro da destruição”. E pelo que o seu jovem discípulo me contou, a amazona que o atacou deveria ter como missão nos distrair enquanto o mensageiro deixava o seu sinal. Ele gravou a sua mensagem a fogo no Portão que destruiu. Somente despertei quando senti o terrível ataque que realizou. Mas não foi somente o Portão Sagrado que sofreu avarias, pelo que vejo.

– Sim… – Orrin pareceu cansado e chateado por sua fraqueza – Aquela amazona possuía ataques terríveis e havia algo vivo naquela armadura. Podia agir independentemente de movimentos da sua mestra. Era como se houvesse um elo mental entre a amazona e sua defesa. Não pude derrotá-la, mas impedi que prosseguisse. Mas agora vejo que meu esforço foi em vão.

– Como era sua armadura? – perguntou Serafim curioso.

– Tinha a forma de um morcego.

– Morcego. – disse pensativo – Sabe o que está acontecendo?

– Como assim? – Orrin voltou a ficar confuso.

– Olhe o senhor mesmo – e apontou para a praça mais acima.

Orrin observou o Relógio Zodiacal ao longe. O que? As chamas estão acesas? Uma invasão e uma União Dourada, tudo numa única noite? Olhou confuso para Serafim, que o respondeu com o mesmo olhar. Então o cavaleiro de prata adotou uma feição mais zelosa.

– Descanse Cão Menor. Continuaremos a vigia e reconstrução do Portão Sagrado. Agora vá! Eu ordeno que seu aprendiz o impeça de caminhar por muito mais tempo. Vá descansar!

– Não precisa ordenar nada, Taças. – respondeu marotamente – Já estou indo. Tenha uma boa noite, ou o que restar dela.

– Desejo-lhe o mesmo. – e virando para o Portão, prosseguiu – Mas saiba que não é do gosto do nosso inimigo matar rapidamente.

– O que está pensando, Serafim?

– Não estou muito certo ainda, mas imagino que o propósito desta mensagem e ataque seja primeiro abalar nosso espírito a fim de apreciar nossas fraquezas antes de nos destruir – e voltou sua atenção às estrelas, focando uma com o brilho rubro de sangue.

*     *     *

MAL HAVIA POUSADO E ÍCAROS já caminhava pelo longo Corredor das Estrelas, após entrada principal da Grande Casa. Ele tem este nome devido possuir em seu teto um imenso mapa das constelações. Foi terminado há pouco menos de oito anos, quando o Grande Mestre assumiu sua posição atual e quando o cavaleiro de ouro de Libra ainda estava presente no Santuário. Ninguém sabe ao certo o que ocorreu com o cavaleiro que representava a balança da justiça de Atena, só que apenas um dia desapareceu e deixou sua armadura para trás. Ninguém tem autorização de tocar na armadura vazia, e o Grande Mestre anunciou que quem o fizesse pagaria com a vida por perturbar a Balança Sagrada. O guardião das doze armas do zodíaco havia sumido misteriosamente.

Ícaros finalmente chegou à porta que levava até a sala de reuniões. Abrindo-a, pôde notar que tudo estava como sempre foi naquele local: tranquilo. A sala em si não possuía paredes, apenas treze colunas jônicas belíssimas igualmente espaçadas e que davam forma ao seu contorno circular. As colunas sustentavam um teto abobado muito alto e pintado como o Corredor das Estrelas. Do centro do teto pendia uma maquete móvel do sistema solar feita de latão.

O clima frio da noite trouxe uma neblina rasteira para a sala. Ícaros seguiu até a sua posição no Círculo Solar, um desenho esculpido no chão da sala que mostrava as doze constelações solares, representadas pelo seu signo desenhado no contorno do círculo e em frente a uma das treze colunas. Encontrando o seu signo, o lorde dourado se posicionou, fechou os olhos e se pôs a meditar. Espero que Delia já esteja dormindo. Desde que sai não mandei mais notícias. Que não fique preocupada.

– Não se preocupe, lorde Ícaros de Sagitário, ela não ficará – uma voz suave e serena quebrou o silêncio da sala.

Surpreso, Ícaros abriu os olhos e observou quando o dono da voz entrou na sala circular. Posicionando-se em seu lugar no Círculo, Delfos de Virgem havia chegado. Aquele conhecido como o último oráculo de Delfos.

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