quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Capítulo 04: A mulher que comanda o som

ELE OBSERVAVA A NOITE DE SUA VARANDA.
Estava frio. O vento combinado com o clima de outono trazia a tona um sentimento melancólico ao Santuário. As árvores perdendo as folhagens, as rosas fechadas e as pessoas evitando sair de suas casas durante a noite.

Alguns minutos antes, Ícaros observava o céu estrelado e sem nuvens. Ele tinha uma estatura mediana, com olhos azul-mar e cabelo castanho muito belo, longo e levemente ondulado. Era muito forte, ainda que magro. Com se tratava de um jovem nos seus vinte e poucos anos, ainda poderia ficar mais robusto, porém gostava de como estava. Com o seu olhar de águia, Ícaros observava tudo com muita atenção, ao mesmo em que sempre se deixava distrair com facilidade. Meio contraditório, mas um fato.

Distraindo-se por um momento da contemplação das estrelas, ele sentiu o movimento furtivo de um cosmo diferente, invasor. Não se tratava de um inimigo a altura, mas era ameaçador. Como não podia abandonar a sua morada sem a devida permissão superior ou aviso prévio, pediu que Delia, uma de suas encarregadas, fosse a casa do Grande Mestre do Santuário e lhe entregasse uma mensagem. Como a sua Casa é bastante próxima do destino, não demoraria a receber a resposta, mesmo sabendo que não estaria no local quando Delia retornasse.

Antes que pudesse agir, porém, ele sentiu um cosmo aliado chegando ao cemitério, onde se encontrava o invasor. Observando de sua varanda, viu uma pequena nuvem de poeira no ar e deduziu que um combate havia começado. Então se acalmou. Meditando, ele buscou o fluxo de cosmo furioso que um combate libera usando o seu próprio. Acompanhando a disputa, ficou impressionado com a força do duelo, mesmo que de baixo nível. Tratava-se de ótimos cavaleiros de bronze, seus cosmos eram semelhantes ou superiores aos de cavaleiros de prata iniciantes.

Mas algo estava errado. Um segundo cosmo invasor chegou ao Santuário vindo pelo Portão Sagrado. Seu nível era muito alto, igualando-se aos dos cavaleiros de ouro, os mais poderosos dentre os cavaleiros de Atena. Foi quando resolveu agir antes houvesse uma tragédia. Deixou o outro combate nas mãos de seu aliado e partiu imediatamente, cofiando plenamente que a força de Cão Menor sobrepujaria a do seu adversário.

*     *     *

– NÃO ACREDITA? – perguntou Orrin – Pois muito bem, veremos quem de nós sairá vitorioso.

A amazona não estava mais concentrada na luta como antes. Há pouco sentiu a aproximação de um cosmo aliado no Santuário. Meu mestre já está aqui? Está adiantado. Será que não confia em mim para realizar esta missão? Não... Ele confia em mim e por isso não o desapontarei. Vendo que seu tempo era curto, ela acelerou o passo em direção ao adversário. Sentido a aproximação do perigo, Orrin pôs-se completamente de pé e se preparou. Sabia o que fazer, começando então a concentrar o seu cosmo ao máximo para aplicar um único golpe preciso e que obedecesse a sua vontade.

A amazona estava preste a correr quando, inesperadamente, deu um largo salto batendo as asas com ferocidade, impulsionando-a velozmente na direção de sua presa. Com um movimento rápido, Orrin conseguiu desviar saltando da investida violenta que destruiu lápides e túmulos no caminho. Como ela esperava, Orrin voava cada vez mais alto devido a sua esquiva, sem chance de desviar de seu verdadeiro ataque.

– SONIC EXPLOSION! – gritou a mulher.

Mais uma vez nada se ouviu. Apenas a boca da mulher mexia, pronunciando as palavras e liberando a onda sônica. Entretanto, Orrin esperava aquele momento. Com o seu cosmo concentrado, o cavaleiro girou o corpo no ar. Pondo-se em posição de batalha e finalmente terminando de subir, preparou-se para despejar todo o seu poder num único ataque.

– SANCTIFIED HOWL ! – gritou o cavaleiro.

Com o ataque da amazona se aproximando cada vez mais, o ataque de Orrin o acertou em cheio. Passando por entre o ataque inimigo, a carga explosiva gerada pelo soco em alta velocidade do cavaleiro dispersou o ataque ofensor por completo e acertou quase completamente a amazona. A mulher morcego sofreu a explosão, mas suas asas fecharam-se sobre si milésimos de segundo antes do impacto. Mesmo protegida, ela foi arremessada para trás em alta velocidade e só parou quando bateu de costas em uma grande lápide, destruindo-a por completo.

Orrin pousou no chão confiante. Seu ataque é bom, mas sua brutalidade sacrifica bastante a velocidade. Então, é só aplicar um golpe mais rápido, acertando o centro da ampliação do seu golpe, e toda a força de seu ataque é absorvida.

– Eu disse que venceria seu ataque. – gritou para ser ouvido pela adversária a metros de distância.

– É, eu senti a pressão do seu poder, mas não foi tão forte assim. – respondeu levantando-se e limpando a poeira da armadura como se nada tivesse acontecido.

– Como? Você foi arremessada com todo o meu poder…

– Mas minhas asas não servem apenas para voar, meu caro.

Incrédulo, Orrin percebeu que ela tinha razão. Quando as asas voltaram a se fechar sobre a amazona, ele notou que elas estavam escurecidas, pois receberam o ataque por completo. Mais que isso, era como se somente o seu ataque tivesse a acertado. Ela não demonstrava dores como as que ele havia sentido antes. Nem mesmo a armadura ajudaria a resistir a essas ondas ressonantes, muito pelo contrário, catalisaria o efeito, pois o metal é sujeito a ampliar tais ondas.

De repente, Orrin cedeu e caiu de joelhos. Sentiu-se perdendo parte da consciência e suas veias estavam queimando.

– O que… é isso? – perguntou muito confuso e gemendo.

– É o efeito do meu ataque com velocidade dobrada. Obrigado por intensificá-lo para mim. – falou despreocupada, como se fosse o fato mais natural do mundo.

– Como…! – uma grande quantidade de sangue saiu por sua boca antes que pudesse terminar de falar.

– É simples. Está vendo esta armadura? Ela é capaz de refletir todo ataque sonoro que eu receber. É uma defesa natural. Quando você fez a burrice de voltar o meu ataque contra mim e fundi-lo ao seu, eu recebi tudo com velocidade dobrada. Seu ataque foi bom, mas minha armadura refletiu o meu contra você novamente, numa velocidade muito acima a do som. Você nem percebeu o ataque o afetando, só agora. Estou surpresa em ver que ainda está vivo. É realmente muito resistente, cãozinho. – desdenhou.

Orrin estava longe de aceitar aquilo tudo. Essa mulher é um monstro! Não posso derrotá-la nesse estado. Não agora. Preciso de ajuda ou vou acompanhar meus aliados aqui enterrados.

Anterior: Capítulo 03      |     Próximo: Capítulo 05

Nenhum comentário:

Postar um comentário